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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Orcas também comem pinguins na Antárctida.

Biólogos observaram pela primeira vez este comportamento no Pólo Sul.

Uma equipa de biólogos marinhos conseguiu observar, pela primeira vez, orcas a caçar e a comer pinguins nos mares da Antárctida. Segundo os investigadores, aqueles cetáceos poderão alimentar-se ali regularmente destas aves.

Já se tinha observado antes que esta espécie de cetáceo carnívoro caçava pinguins ocasionalmente, mais para norte, nas ilhas subantárcticas. Mas esta foi a primeira observação deste tipo no Pólo Sul. Além disso, há indícios de que esse comportamento alimentar pode ser ali algo habitual.

"Se os pinguins são regularmente atacados pelas orcas na Antárctida, o impacto nas suas populações pode ser significativo", escrevem os autores Robert Pitman e John Durban, do National Marine Fisheries Service, dos EUA, num artigo publicado na revista científica Polar Biology.

As observações, que foram feitas na região da península ocidental da Antárctida, durante o mês de Fevereiro, permitiram perceber que as orcas se alimentaram sobretudo de duas espécies de pinguins, os Pygoscelis papua, cujo nome comum é pinguim-gentoo, e o Pygoscelis antarctica, vulgarmente conhecido por pinguim-de-barbicha.

Dos três tipos de orca que se conhecem, só uma foi observada a alimentar-se de pinguins, havendo indícios de que a maior de todas também o poderá fazer.

Estão descritos três tipos de orca. As de tipo A, as maiores de todas, comem sobretudo baleias-anãs; as de tipo B, que são mais pequenas, alimentam-se principalmente de focas, e as C, também de menor dimensão, adoram especialmente atum.

Foram as orcas de tipo B que os biólogos viram a alimentar--se de pinguins.

"Esperávamos vê-las a alimentar-se de focas e de baleias-anãs da Antárctida", explicou Robert Pitman à BBC News online. Mas, sublinhou, "ficámos bastante surpreendidos por vê-las a caçar também pinguins".

Nas suas observações, os biólogos verificaram ataques a pinguins em três dias diferentes por parte das baleias de tipo B.

Na maior parte dos casos, as orcas comiam apenas os músculos do peito, deixando a pele e os ossos para trás. E esta poderá ser a razão por que nunca antes, em observações do interior do estômago de orcas, se tinham encontrado restos de pinguins.

"Ficámos surpreendidos ao verificar que as orcas podiam comer quatro a seis quilos de carne de pinguim de uma vez, mas a maior surpresa foi perceber que elas estavam sobretudo interessadas em comer apenas os músculos", escolhendo a melhor parte, "muito como os humanos fazem", disse Robert Pitman, citado BBC News.

Na sua caça aos pinguins, as orcas faziam-no por vezes em grupo, e depois removiam cuidadosamente as penas e a pele para chegarem à carne do peito.

Os investigadores pensam que esta caça poderá ser feita numa base regular, e que por isso poderá ter impacto na população daquelas aves.

domingo, 18 de julho de 2010

Gorilas também brincam à apanhada.

Os jogos entre os jovens gorilas servem para testar os limites de comportamento dentro do seu grupo social.

Uma equipa de cientistas britânicos, holandeses e alemães descobriram que os gorilas juvenis também brincam à apanhada, quase da mesma maneira que as crianças humanas.

Após estudar imagens de vídeo gravadas em zoológicos, os cientistas constataram que os gorilas tocam em um companheiro e logo fogem, quando o outro começa a correr atrás deles. A pesquisa, divulgada na publicação especializada Biology Letters, sugere que os primatas testam os limites de comportamento aceitável dentro do seu grupo social.

"Isso mostra uma grande semelhança como jogo da apanhada das crianças," diz Marina Davila Ross, da Universidade de Portsmouth, na Inglaterra.

"Não podemos dizer que é exactamente igual, porque os jogos envolvem regras e os indivíduos precisam estar cientes dessas regras, mas o comportamento é semelhante. E este jogo, em que o perseguido é, depois, o perseguidor, demonstra que os gorilas são capazes de mudar o seu comportamento em situações de desvantagem."

Os cientistas assistiram a vídeos de gorilas brincando, gravados durante três anos em cinco jardins zoológicos.

Marina Davila Ross, que realizou a pesquisa com cientistas da Free University de Amesterdão, na Holanda, e da Universidade de Medicina Veterinária de Hanôver, na Alemanha, disse à BBC News que a equipa identificou exemplos desse comportamento em 86 ocasiões diferentes.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Desvendado o enigma do ovo e da galinha.


A ciência não pára de fazer descobertas. Investigadores ingleses anunciaram hoje que resolveram o clássico enigma 'quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha'. E a resposta é: a galinha!

A investigação é séria. Os cientistas analisaram os ovários das galinhas e concluíram que a formação dos ovos só é possível graças a uma proteína – chamada ovocledidin-17 (OC-17) – presente nos animais. Daí ser essencial ter aparecido primeiro a galinha para 'fabricar' o ovo.

'Há muito que se suspeitava que o ovo tivesse aparecido primeiro, mas agora temos provas científicas que demonstram que a galinha apareceu antes', afirmou ao jornal Metro Colin Freeman, da Universidade de Sheffield, que trabalhou na investigação com especialistas da Universidade de Warwick.

Ainda segundo o Metro, para esta descoberta foi necessário utilizar um super-computador, designado HECToR, que desvendou os passos de formação do ovo. Aí percebeu-se que a OC-17 é crucial para que se dê a cristalização da casca.

domingo, 11 de julho de 2010

Lagos recebe único calau fêmea da Europa


Ave em vias de extinção, proveniente do Zoo de Barcelona, vai iniciar um programa de reprodução no Algarve
O Parque Zoológico de Lagos recebeu, na quinta-feira, um novo morador: o único calau rinoceronte (Aceros rhinoceros) fêmea existente na Europa.

A ave, residente há 15 anos no Zoo de Barcelona, vai integrar um programa de reprodução com calaus macho do Zoo, de modo a preservar a espécie, extremamente ameaçada de extinção.

Com esta iniciativa, o Zoo de Lagos torna-se no único parque zoológico da Europa com um casal residente de calaus rinoceronte!

Para garantir a sobrevivência da espécie, o zoo criou uma instalação com dimensões adequadas ao bem-estar e eventual reprodução do casal.

O parque demonstrou preocupação em recriar o habitat natural das aves originárias do Bornéu, facto perceptível na arquitectura asiática do espaço. Uma árvore artificial com cinco metros de altura foi construída para que os calaus tenham um ninho, o mais parecido possível com os que esta espécie usa nas zonas mais altas das florestas húmidas da Malásia, Singapura, Samatra, Java e Bornéu.

Apesar deterem uma longevidade de vida que pode alcançar mais de 35 anos, os calaus encontram-se em risco de desaparecer na natureza. Entre as principais causas estão a destruição da floresta na Indonésia, o comércio ilegal de madeira e uso e terrenos para agricultura, e a caça no Bornéu para alimento e uso de penas por tribos locais.

Os calaus voltam todos os anos ao mesmo ninho, mesmo até depois das florestas circundantes terem sido derrubadas.

A população de calaus rinoceronte está em declínio, excepto em algumas reservas, restando menos de 500 indivíduos na ilha de Java e menos de 2500 aves em Kalimantan.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Uma amizade entre uma marmota e uma ave.

No Inverno, uma hiberna, a outra supõe-se que parte em migração. Na Primavera e no Verão encontram-se e partilham o mesmo condomínio. Segunda e última parte de uma expedição científica por Xinjiang. Na foto está representada uma Marmota

O relato que ouviu de um cientista estrangeiro, de visita a Portugal no ano passado, encantou-o tanto que quis ver se era verdade — e foi assim que Nuno Monteiro acabou numa pradaria na China, 2500 metros acima do nível do mar.

A história é esta: na pradaria de Bayanbulak, que fica num planalto da cordilheira Tianshan, na região chinesa de Xinjiang, existe uma espécie de marmota que partilha a casa com uma ave durante a Primavera e o Verão. É por essa altura que ambas cuidam dos filhos que acabaram de nascer. Com a aproximação do Inverno e da neve que cobre o planalto, a marmota hiberna na sua toca e a ave pensa-se que parte para terras mais quentes. Talvez até África.

Há agora uma planície de gramíneas, um rio que corre em meandros, cada vez mais fortalecido pelo degelo da neve, uma montanha em redor que continua branca nos picos, o sol que desponta pela manhã fria, a brisa que se sente no rosto, um casal de cisnes que pousa na água, uma única casa nesta parte da pradaria, com vista desafogada, onde vive um guardador de lobos — e no chão muitos buracos, as tocas das marmotas, que são roedores.

Nunca tal associação surgiu descrita num artigo científico, mas foi esse o relato que Nuno Monteiro ouviu a Ablimit Abdukadir, quando este investigador do Instituto de Ecologia e Geografia de Xinjiang visitou, em meados de 2009, o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio) da Universidade do Porto.

“Relações tão próximas entre espécies tão distintas são raras. Envolvendo mamíferos, creio que não foram ainda descritas”, diz o biólogo do Cibio e docente de Parasitologia na Universidade Fernando Pessoa, no Porto.

“Achei a história apaixonante”, continua Nuno Monteiro. “Cresci a ver os documentários da BBC, invejando intensamente o David Attenborough pela sua capacidade de surgir entre a câmara e o mais exótico dos animais. Ouvia-o imediatamente a narrar a história desta amizade improvável, e achei que íamos para a frente com o projecto.”

Foram mesmo para a frente, ele e Albano Beja Pereira, zootécnico também do Cibio, e assim incluíram nos objectivos de uma expedição por Xinjiang, no coração da famosa Rota da Seda, o estudo da convivência invulgar entre uma marmota e uma ave.

À espreita no planalto

“Professor, isto são ‘caganitas’ de marmota?”, pergunta o biólogo português, perto de uma toca na planície de tufos rasteiros, a Ablimit Abdukadir.

“Oh, sim.”

“Vou recolhê-las.”

Pela planície vagueiam outros olhos atentos ao chão. Enquanto Ablimit Abdukadir, da etnia uigur, muçulmana e minoritária na China mas dominante na região de Xinjiang, se ocupa a identificar excrementos, Albano Beja Pereira traz mais tubos para guardar amostras destinadas a estudos de ADN. Com eles está Chen Shanyuan, estudante chinês de pós-doutoramento de Beja Pereira no Cibio há alguns anos, e que já conhecia Abdukadir. E Adil Tohti, outro uigur, o contacto local, que conduz os recém-chegados pelo território das marmotas.

Adil Tohti vive na única casa de tijolos nesta parte da pradaria, sozinho com os 14 lobos que apanhou e gosta de manter em jaulas no quintal, com vista para os meandros do rio Kaidu. E já tem uma marmota enjaulada à espera da equipa. Diz ser proprietário de mil ovelhas, uma gota de água entre os 200 mil animais (vacas, iaques e cavalos, além de ovelhas) que pastam no imenso planalto habitado por 30 mil pessoas.

Ao fundo, a poucos minutos de jipe, avista-se a cidadezinha de Bayanbulak. A rua principal, de terra batida, é uma sucessão inesperada de hotéis e restaurantes, ao fim da travessia de algumas horas pelo planalto salpicado de manadas de iaques e de vacas e rebanhos de ovelhas brancas de cabeça preta.

Muitas vezes atrás do gado seguem pastores a cavalo. As iurtes, tendas circulares dos mongóis, povo nómada que partilha o vale com uigures e cazaques, deslumbram. As suas chaminés em forma de tubo fumegam, principalmente de manhã, e ao lado das tendas encontram-se sinais dos avanços tecnológicos. Estão munidas de painéis solares dispostos no chão.

A cidade congrega dez mil habitantes, muitos dos quais mineiros na região, e à noite o ar está impregnado de um cheiro a carvão vindo das lareiras de casas modestas, nas ruas mais recuadas. Os hotéis albergam os turistas que nos meses de Verão procuram estas paragens, afinal esta pradaria, uma das maiores da China, tem uma famosa reserva natural de cisnes, constituída por inúmeros pequenos lagos. Concentram-se aqui mais de um milhão de cisnes, mas as aves de diversas espécies podem chegar aos dez milhões.

Numa rua lateral, há um cinema e à sua frente dispuseram-se mesas de bilhar. Cibercafés também existem; e se pesquisarmos no Google a palavra “Xinjiang” o resultado na Wikipédia, em inglês, menciona os confrontos étnicos entre os uigures e os chineses hans, a etnia dominante na China, há um ano na capital da região, de que resultaram oficialmente quase 200 mortos e mais de mil feridos. Esses confrontos foram a manifestação mais violenta do clima de tensão étnica latente em Xinjiang. O Facebook ou o YouTube encontram-se, no entanto, bloqueados.

Passeando o olhar por cima do terreno com as tocas, avistam-se duas iurtes. Como serão por dentro?

E, zás, as marmotas aparecem e desaparecem — confundindo-se na paisagem ou entrando numa das várias aberturas das tocas. Percebe-se que têm o pêlo amarelado, com laivos negros.

É a Marmota baibacina, o nome científico da sua espécie. O que dá ela exactamente à ave, uma espécie de chasco? “Um T0”, brinca Nuno Monteiro. “Os chascos fazem os ninhos em buracos. Mas esta paisagem não tem grande diversidade para fazerem o ninho. Os chascos já têm um apartamento nos buracos das marmotas.”

E a ave, o que dá à marmota em troca? “Sendo herbívora, quanto mais a marmota sobe em altitude, menos alimento tem disponível. Se vivesse sozinha, não adiantaria subir muito, porque o esforço para procurar alimentos seria tanto que suplantaria os benefícios e em grande parte do tempo estaria preocupada com os predadores. Associada com um pássaro, pode ocupar novos territórios”, explica Nuno Monteiro. A ave põe-se em guarda e avisa as marmotas de potenciais predadores.

“Mas ainda não vimos ave nenhuma”, lamenta o biólogo a Beja Pereira, ao fim de algum tempo. Tivesse dito isto mais cedo e o seu desejo ter-se-ia já cumprido.

Ali está uma. Contente? “Não, ainda não a vi entrar na toca. Mas está a emitir chamamentos.” São os humanos que representam perigo.

O biólogo caminha na direcção da ave, observando-a: ela voa rente ao chão para aqui, para ali, e vai pousando. “Segue um padrão: tem uma série de sítios de pouso.”

Embora sem certezas ainda, deve ser um chasco da espécie Oenanthe isabellina, meio esbranquiçado por baixo, acastanhado no dorso e com pontas pretas na cauda. Come insectos.

Ave e marmota protagonizam as conversas. “Uma família de marmotas pode ter quatro ou cinco buracos”, diz Ablimit Abdukadir. “Quantos filhos têm?”, pergunta-lhe Beja Pereira. “Quatro a seis.”

As dúvidas surgem. “Não tenho a certeza de que a ave e a marmota vivam tão próximas como eu penso, porque as aves que vimos emitiam sons de alarme para muitos buracos”, questiona-se o biólogo.

As dúvidas logo se desfazem, quando uma ave aprece junto a um buraco. “Olha, entrou! Saiu e voltou a entrar.”

Timidamente, ela assoma-se e esconde-se ainda algumas vezes. Outras duas aves, um casal, prendem a atenção de Nuno Monteiro e Beja Pereira, especados no meio da planície, de costas voltadas para o resto da equipa, com casacos até aos joelhos.

Afinal, a história da amizade entre uma marmota e uma ave é mesmo a sério. “Uma coisa é ouvir [um relato], outra é ver com os próprios olhos. Fico satisfeito”, diz Monteiro.

Se um ninho estiver perto da entrada da toca, será fácil esticar o braço e apanhar um ovo para tirar ADN. Mas nenhum está. Já da marmota, além dos excrementos, os cientistas não tardariam a ter um tipo de amostras algo inesperado.

Tudo porque, no seu carro, Adil Tohti avança pela planície a grande velocidade, guinando para aqui, para ali, enquanto se dirige às duas iurtes que despertaram tanta curiosidade. Pelo caminho as marmotas que andam na pradaria assustam-se, desatam em correria, e uma acaba debaixo dos pneus — Chen Shanyuan e Ablimit Abdukadir aproveitam então para cortar pedaço das orelhas para recolher ADN e tirar as medidas ao bicho.

“Que idade tem o animal?”, pergunta Beja Pereira. “Quase três anos”, diz-lhe Abdukadir ao inspeccionar os dentes. “E viveria quanto tempo?” “Cinco a sete anos.” (Dentro de uma das tendas mongóis, ocupada por uma família nómada, dispõem-se duas camas, roupas meticulosamente dobradas, alguidares, fotografias emolduradas, uma lâmpada eléctrica pendurada do tecto ou uma salamandra no centro que aquece o espaço).

Um D. Juan da montanha

Interessado nas questões de evolução e nos laços de parentesco entre indivíduos de uma espécie, para Nuno Monteiro esta amizade improvável entre uma marmota e uma ave representa um sem-fim de especulações científicas. Por exemplo, os descendentes da família da marmota e a da ave continuam a viver juntos de ano para ano ou os seus laços são mais efémeros? Espera-se que o ADN de ambas dê algumas respostas.

“Com esse ADN, obtemos um perfil, uma espécie de impressão digital única para cada indivíduo. Quando amostrarmos as crias, saberemos quem são os pais e as mães. Teremos uma indicação do sistema reprodutivo das duas espécies”, explica o cientista português. “Serão os agregados familiares bem comportados (monogâmicos), ou existirão facadinhas no matrimónio? De uma época reprodutiva para a seguinte, os casais mantêm os laços ou escolhem-se novos parceiros? Quem é o ‘D. Juan’ da montanha? Em resumo, poderemos compreender em detalhe a biologia destas populações de aves e marmotas, e a intensidade da sua relação.”

Será que estas populações co-evoluíram? “Se a ligação for realmente profunda, poderá já estar escrita nos genes. Interessa-nos saber quão dependentes estão uma da outra, neste habitat específico.”

Muito antes de terem uma resposta, os cientistas portugueses ainda têm pela frente uma certa tarefa mais premente, no final da viagem que os levou a percorrer quase cinco mil quilómetros por Xinjiang, atrás de marmotas e aves (e dos burros selvagens da Ásia, como contámos na primeira parte do relato desta expedição, a 24 de Junho). Sempre atrás de excrementos, tudo pelo ADN. Pelo que é já longe de Bayanbulak, de regresso a Ürümqi, a capital de Xinjiang, após quase duas semanas na estrada, que a expedição tem o desfecho oficial. Nas escadas de um hotel, à noite, Nuno Monteiro e Beja Pereira retiram de uma geleira os excrementos guardados em tubos e embrulhados em papel de alumínio, para estudos de genética e de parasitas. Destapam o que recolheram ao longo da expedição, preparando e dividindo amostras, que vão seguir para Portugal de avião. “Os da marmota estão podres, eia, que bedum...”

domingo, 4 de julho de 2010

Caturritas invadem cidades da Europa.

Cientistas espanhóis alertam para necessidade de se controlar a reprodução da ave, antes que se transforme numa praga.

Importada como animal de companhia, a caturrita argentina transformou-se numa verdadeira praga em muitas cidades da Europa. Em Lisboa já foram avistados vários casais, mas Barcelona é a capital europeia com maior número de exemplares - calculam-se que 2500 vivam nos seus jardins, uma colónia que, sem predadores naturais, cresce a um ritmo de 8% ao ano.

De aparência simpática, com uma chamativa plumagem verde e bico amarelo, a Myiopsitta monachus, além de ser extremamente ruidosa, é um invasor que constitui uma ameaça para as aves locais... e até para algumas árvores.

Edificam os seus enormes ninhos, que chegam a pesar 150 kg, no alto das copas, destruindo a vegetação e muitos ramos, que acabam por ceder ao peso e cair, colocando em perigo os transeuntes.

As palmeiras são as árvores preferidas, mas não hesitam em fazer a sua casa em ciprestes, pinheiros ou mesmo em torres de alta tensão.
Antes de se proibir a sua importação, as caturritas argentinas eram muito baratas comparativamente a outras aves exóticas... mas, como são barulhentas e até agressivas, os seus proprietários acabavam por soltá-las. A capacidade de comer quase tudo, desde erva a sementes, frutos e até pão, contribuiu para a sua proliferação.

Especialistas espanhóis alertam que, se não se actuar rapidamente, avançando com programas de erradicação de ninhos, controlo de reprodução ou mesmo de eliminação de algumas aves, a caturrita argentina vai transformar-se numa praga. Eventualmente com perigo para a saúde.

Javalis de volta.

Foi caçado quase até à extinção, mas o javali está de volta... graças às reservas de caça. Não se sabe ao certo qual o número exacto, mas os especialistas dizem que deverá ter triplicado nos últimos 20 anos. E é frequente vê-lo a chafurdar na lama nas terras do Alentejo.

Quando o javali mergulha na lama e se ouve dizer que está a chafurdar, a expressão pode sugerir um comportamento pouco ortodoxo, pelo menos, aos olhos dos humanos. Mas o que mais parece um fetiche das horas vagas, ou seja, quando não está a comer, é bem mais do que isso. O javali precisa dos banhos de lama como se de uma necessidade fisiológica se tratasse. E até nas relações com o resto da comunidade desta espécie, mesmo à hora de acasalar, o ritual perfila-se como "sublime".

A primeira função destes curiosos, se bem que aparentemente pouco higiénicos, banhos de lama visa regular a temperatura do corpo desta espécie, sendo das poucas que não transpiram, devido ao tipo de glândulas sudoríparas atrofiadas. Sobretudo nos meses de Verão, o animal chega a atingir temperaturas corporais elevadíssimas, quase incompatíveis com a sua própria sobrevivência, ameaçada de uma fatal desidratação, que já se encarregou de roubar algumas vidas.

João Vilela já sentiu na pele o desespero de "javalis em brasa", como os adjectiva, quando no Verão de 2005, na sequência de uma seca feroz e perante temperaturas de 40 graus, se deparou com quatro animais deitados sobre melancias, melões e tomates esmagados numa pequena quinta de que é proprietário na Vidigueira. Num trabalho de equipa, derrubaram uma cerca, com perto de dois metros de altura para chegarem às hortifrutícolas.

"É verdade que estavam a comer também, mas percebia-se que a sua intenção era refrescarem-se, porque se deitavam no chão, procurando com o corpo criar alguma lama com o sumo dos frutos", recordou, tendo ficado a saber depois que alguns vizinhos da zona - onde a espécie abunda - assistiram a cenários idênticos, justamente porque a falta de água deixou a serra do Mendro (entre Vidigueira e Portel) completamente seca.

Além deste quadro mais radical, os banhos de lama têm ainda um papel de relevo nas relações sociais entre os javalis, funcionando mesmo como sedução (ou será afrodisíaco sexual?) na época do cio, levando a que a partir de Novembro apenas os machos adultos vão "chafurdar" na lama, para garantirem a manutenção dos respectivos odores corporais, com recurso à criação de uma camada de barro bem agarrada ao pêlo.

Os historiadores falam de um animal muito antigo, que vai muito para lá dos anos dourados da banda desenhada em que Obélix não os dispensava na mesa. Muito antes já o javali era desenhado pelos homens das cavernas, não só pelo sabor suculento, mas também porque representava agressividade, bravura e rapidez.

Pode não parecer, levando em conta os mais de 100 kg de peso, mas este animal atinge velocidades loucas, correndo em linha recta, e é um exímio nadador, o que lhe permite cruzar ribeiros à procura de comida, utilizando a força do focinho para derrubar cercas e até levantar pedras cravadas no solo. É aqui que este peculiar apreciador de lacraus encontra alimento, graças ao seu olfacto e audição apurados.