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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

A guerra das estrelas.

Se as partir, multiplicam-se. As estrelas-do-mar podem ser uma verdadeira praga para pescadores e donos de viveiros de ostras. Mas são indispensáveis ao equilíbrio ecológico.

As estrelas-do-mar têm uma característica que as torna únicas - sempre que perdem um dos braços, regeneram-no. E se o braço partido levar consigo um pouco que seja do corpo (basta um quinto do disco central), dá origem a uma nova estrela-do-mar. Um fenómeno curioso mas que transforma as estrelas-do-mar em verdadeiras pragas, capazes de devorar recifes de coral e campos de bivalves, para desespero dos criadores de ostras.

Nas águas portuguesas existe uma espécie, a Coscinasterias tenuispina, conhecida como blue sea star (pelos tons azul-lilás que apresenta), que tem grande facilidade em perder os braços e os regenerar. "Ficam uns mais curtos que outros e é das únicas em que os braços não são necessariamente cinco ou múltiplos de cinco, como acontece com quase todas as estrelas-do-mar." Quem o diz é Dora Jesus, bióloga marinha, que, nos anos 90, fez um dos únicos estudos que existem no País sobre as estrelas.

Ao todo, no mundo existem 1500 espécies de estrelas-do-mar, nenhuma delas unicamente portuguesa. Mas encontram-se ao longo de toda a costa. "Não existe informação em relação ao número de indivíduos nem sobre o Estatuto de Conservação. Nada nos permite saber se são abundantes no País, ou até se estão em expansão", salienta a bióloga.

Sabe-se apenas que se distribuem de acordo com as suas próprias características de habitat, que variam entre águas frias ou quentes. Temos estrelas-do-mar provenientes da zona do Mediterrâneo, outras com características das águas boreais (que ocorrem também no Norte da Europa) e ainda com características das águas africanas (no caso da Madeira). Há também espécies nos Açores, características das Caraíbas, que são trazidas pela corrente do Golfo.

Para sobreviverem nas nossas águas precisam de temperatura e nutrientes. "A alimentação é o mais importante. Mas, no caso de fazerem a reprodução sexuada, necessitam também de outros exemplares da espécie." É raro encontrar estrelas-do-mar em grupos. "São animais sedentários que precisam de correntes para se deslocarem. Mas às vezes são levadas pelas redes de arrasto."
São consideradas uma praga, constituindo um problema para a ostreicultura, "pela força que os braços têm em abrir as conchas e pela capacidade de deitar o estômago para fora quando comem". E é muito frequente os pescadores encontrarem-nas agarradas às armadilhas e redes, comendo os peixes que lá ficam. "Vêem-se muitas estrelas nas rampas dos portos, que são atiradas fora, quando as redes saem da água", explica Dora Jesus.

O seu apetite voraz coloca-as como predadoras de topo da cadeia alimentar. "São capazes de comer peixes inteiros." Em Espanha são responsáveis por elevados prejuízos económicos, sendo necessário, muitas vezes, retirá-las à mão da água. Mas a solução não é parti-las... em menos de um mês estarão totalmente regeneradas ou até duplicadas.

Dora Jesus alerta ainda para a necessidade de manter o equilíbrio dos habitats. "Retirar algumas dezenas de estrelas-do-mar por dia numa mesma zona é sinónimo de mais ouriços-do-mar", um outro predador, da mesma família dos equinodermes, capaz de transformar as pradarias subquáticas em verdadeiros desertos.

Por isso, quando se sentir tentado a levar para casa, no final do dia de praia, uma bonita estrela-do-mar (uma brincadeira que todos fizemos em criança) pense duas vezes. Até porque, como explica a bióloga, "nem todas servem para secar e servir de adorno. Em Portugal, temos muito poucas que tenham essa capacidade. A maioria das espécies de Asteroidea tende a desfazer-se e a ficar gelatinosa". E vai para o lixo...

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